Fragmentos de uma carta - 2

Sabe, eu estou um bom tempo com esse sentimento ruim. Achando que nada de bom pode acontecer de novo. O sentimento persiste e sinto como se eu estivesse em um processo de autodestruição. Se eu fico doente, não procuro ser curado. Se não consigo estudar, digo "foda-se"; mas sei que depois ficarei triste pela nota baixa e que eu mereço aquela nota. Tenho me afastado dos meus amigos fisicamente e erguendo essa parede de gelo no meu coração, tentando afastar sentimentos de saudade, de carinho. Porque não quero transparecer o quão quebrado estou, que não tenho tido mais momentos de felicidade de verdade. Tenho deixado coisas ruins mais próximas e fico íntimo delas. Me apego. Me reúno com os amigos e meu pensamento vaga distante dali, me sinto pior no meio deles, como se eu fosse atrapalhar aquele momento. Sinto tristeza, eu sinto.
Sabe, eu até tento acender aquela luz pequena esperando que ela preencha todo o espaço, mas ela continua tão tímida, e faz um tempo que ela está assim. Eu estive pensando sobre umas frases. Dizem que devemos ser felizes sozinhos, não devemos depender de outro para sermos felizes; eu sempre concordei com isso; acredito que ser feliz é uma condição individual, intrínseca. Entretanto, somos seres de sociedade, de conjunto, precisamos nos relacionar. E o problema está aí, eu jamais imaginei em toda minha vida que conseguiria um feito desse, que pudesse namorar, casar, ter filhos. Isso é surreal para mim. E ainda assim, tenho necessidade disso. É o que eu sinto.
Sabe, eu estou cansado. Começo a me relacionar com alguém novo e já sei que não vai dar em nada. E ainda me entristece notar que minha felicidade depende disso. Eu invejo as pessoas que na minha idade já se casaram, que viajam e vivem. Eu não vivo. Eu só estou morrendo.